Almeyda: "Nunca aproveitei tanto"

River Plate 2011.
Em pé: Jonatan Maidana, Leandro Chichizola (arquero), Alexis Ferrero, Mariano Pavone, Juan Manuel Díaz y Adalberto Román.
Agachados: Erik Lamela (semi agachado), Matías Almeyda, Paulo Ferrari, Manuel Lanzini y Wálter Acevedo.

Gostaria de agradecer ao amigo Argentino Gabriel Casazza, do excelente site River Plate - La Pagina Millonaria - Sitio 100% No oficial

Entrevista Reproduzida FIFA.COM

O argentino Matías Jesús Almeyda parece destinado a derrubar todos os mitos do futebol moderno. Em 2009, depois de quatro anos de aposentadoria, voltou à atividade profissional submerso em um mar de incertezas. O River Plate patinava nas últimas posições do Campeonato Argentino, e a chegada do veterano de 35 anos só ajudava a alimentar as dúvidas sobre o futuro.

Mesmo assim, o homem que chegara a ter o passe mais caro do futebol argentino em 1996 mantinha convicções firmes. Dois anos depois, o tempo lhe deu razão. Com a sua ajuda, a equipe está brigando na parte de cima da tabela, e já há quem fale em dar a Almeyda uma nova oportunidade na seleção argentina. Alheio a esses pedidos, o meia que já vestiu camisas como as de Sevilla, Lazio, Parma e Internazionale recebeu o FIFA.com para conversar sobre etapas marcantes da sua carreira: a aposentadoria precoce, a depressão, a terapia e o excelente momento.

Argentina 2001.
Em pé , E p/ D: Juan Pablo Sorin, Matias Almeyda, Mauricio Pochettino, Roberto Ayala, German Burgos e Walter Samuel;
Agachados: Claudio Lopez, Ariel Ortega, Javier Zanetti, Pablo Aimar e Juan Veron
(Photo credit should read DANIEL GARCIA/AFP/Getty Images)

Matías, o seu caso no futebol é bastante específico, mas não é único. Há outros jogadores perto dos 40 anos brilhando nos seus países, como Rivaldo no Brasil. Como você explica esse fenômeno?
Tudo depende da vontade de jogar. Quando a idade chega e a gente vê que tem pouco tempo de futebol, decide aproveitar cada minuto ao máximo. Tanto eu quanto o Rivaldo passamos pelo futebol europeu e por bons clubes, mas ainda temos um sentimento pela bola. Isso faz a diferença.

A profissão mudou muito nestes últimos anos?
Não apenas o futebol, mas a vida como um todo. Estreei há mais de 19 anos. Eu tinha 18 anos e uma fome diferente. Não havia o que há hoje: o nosso objetivo era jogar no time de cima e chegar à seleção. Hoje se olha mais para a parte econômica, o que é contraproducente. Não há mais aquela fome de vitória, a vontade de treinar mais para melhorar. O futebol é um reflexo fiel de como vivemos.

Lazio temporada 1998-1999
Em pé, D p/ E. Alessandro Nesta, Christian Vieri, Siniša Mihajlovic, Giuseppe Pancaro, Luca Marccheggiani e Roberto Mancini;
Agachados: Dejan Stankovic, Giuseppe Fravalli, Matias Almeyda, Pavel Nedved e Marcelo Salas.

Nas suas primeiras declarações como jogador, você dizia que queria se aposentar cedo...
E foi o que fiz. Saí aos 30 anos para me dedicar à vida rural, mas com o tempo me dei conta de que não era feliz. Não entendia nada do trabalho, só ia comer churrasco e me divertir com os amigos e a família. Levei uns anos até me dar conta e acabei vendendo todas as cabeças de gado. A maioria dos jogadores se aposenta quando a parte física já não é mais a mesma, mas eu saí sabendo que ainda tinha condições. Por sorte agora pude voltar e aproveitar cada momento.

Por que queria se aposentar tão jovem? O que o incomodava no ambiente?
Muitas coisas, como a cultura da vitória. Ela está em todo o futebol, mas não combina com a minha vida. Se você joga bem hoje, amanhã todo mundo o elogia, as pessoas nas ruas o cumprimentam de uma maneira particular. Tudo começa a ser falso e isso me incomodava muito.

Parma, temporada 2002-2003, Almeyda numa ótima equipe ao lado de Cannavarro, Taffarel, Júnior, Nakata....

Mas, longe de se aliviar com a aposentadoria, você acabou sofrendo...
Caí em um poço de depressão, não encontrava o meu lugar no mundo. Sentia falta do futebol e não entendia por que, se antes eu renegava tudo o que ele significava. Estava com a cabeça confusa e não encontrava forças, até que felizmente comecei a fazer terapia.

Como decidiu dar esse passo?
O problema é que havia começado a transmitir a toda a minha família aquela forma negativa de enfrentar a vida. Uma das minhas filhas estava com problemas na escola e a psicopedagoga propôs um exercício: identificar os membros da família com um desenho. Ela desenhou a mãe como se fosse uma rainha; as irmãs, com flores. E acabou me desenhando como um leão velho, atirado, entediado e sem dentes... Aquilo me sacudiu, porque percebi que estava machucando a minha família. Então decidi ir à psicóloga.

O ambiente do futebol não parece muito aberto a esse tipo de alternativas. Concorda?
Eu analiso tudo e digo que o futebol é como a política. Convém a muita gente que os jogadores sejam ignorantes para que esses jogadores possam ser enganados. Para que os jovens não se avivem, digamos assim. Sem generalizar, no futebol há muita gente que faz mal ao esporte, e o jogador não percebe até chegar a uma idade madura. Não interessa a muita gente que tenhamos os olhos abertos.

Em que aspectos uma terapia pode ajudar um jogador de futebol?
O futebol é uma etapa da vida, mas depois ainda há muito para se viver. É necessário preparar o jogador, formá-lo como pessoa para que aprenda a se virar sozinho. Ele não pode precisar sempre de alguém para pagar as contas no banco. Essa facilidade não é boa. Quando você deixa de jogar, percebe que não sabe nem comprar uma passagem de avião sozinho. Você se sente um ignorante. Por isso acredito que seja necessário preparar o homem além do esportista.

Se pudesse tomar um café com o Matías Almeyda que decidiu se aposentar jovem, o que lhe diria?
Daria uns socos nele (risos). Falando sério, acho que as decisões que tomei tiveram os seus motivos. Não me arrependo, mas sei que renunciei a vários anos de felicidade. Na depressão que tive, me machuquei e também machuquei os outros. Eu evitaria aquela parte, mas as decisões já estão tomadas.

Falando de decisões, você disse uma vez que o Sevilla se equivocou ao contratá-lo. Foi assim mesmo?
Acho que viram o vídeo do Ortega por engano (risos). Foi a transferência mais cara da Argentina. Tinham me visto jogar na Copa Libertadores e na Olimpíada, quando fiz algumas jogadas impressionantes. Acho que pensaram que eu jogava sempre daquela maneira! Até me puseram de armador nas primeiras partidas. Imaginem como estava mal o Sevilla! Na segunda partida todos estavam me insultando, até os mortos. Mas foi bom para mim, porque me fez colocar os pés no chão rapidamente.

River Plate 2010. Arriba: Gustavo Canales, Daniel Vega (arquero), Alexis Ferrero, Nicolás Sánchez y Juan Manuel Díaz.
Abajo: Matías Abelairas, Oscar Ahumada, Daniel Villalva, Marcelo Gallardo, Paulo Ferrari y Matías Almeyda.

E como você encarou a frustração na Copa do Mundo da FIFA? Foi a grande decepção da primeira parte da sua carreira?
Da maneira que penso e vejo a vida, acho que tinha de ser daquele jeito. Campeão só há um e a Argentina só ganhou duas vezes na história: uma em casa e a outra com o Maradona, que era o Messi de hoje. Ele fazia uma grande diferença. Mas, depois, a história disse que não somos ganhadores. Todos nós queremos ganhar, as derrotas nos fazem sofrer, nos deixam feridas, mas fracasso é outra coisa. É necessário aceitar as coisas.

Está aproveitando esta etapa mais que as anteriores?
Nunca aproveitei tanto como agora. Se me perguntarem o que senti na minha estreia, não me lembro muito bem. Mas me lembro de tudo do dia em que voltei à atividade (dia 30 de agosto de 2009, o River derrotou o Chacarita por 4 a 3 e Almeyda entrou no segundo tempo): olhava para o público nas arquibancadas, para o céu, via cores... Foi muito profundo, fiquei muito emocionado.

Que sonhos você ainda quer realizar na sua carreira?
Quero ser campeão, ficaria muito feliz, pagaria para ser campeão! Se não for possível, gostaria de classificar o River a alguma copa internacional ou pelo menos ajudar a recuperar o futebol que todos nós torcedores do clube gostamos.

E não tem medo da nova aposentadoria? Trabalhará como treinador?
Não tenho medo. Vou ser treinador, disso tenho certeza, e continuarei com a vida ligada ao futebol.

Você se vê como treinador da Argentina no futuro?
Sim, é claro. Vou lutar por isso. É sempre importante sonhar alto.

Referênicas:

Gabriel Casazza
Fan pictures - Football history in photos of teams
Getty Images
IFFHS
River Plate - La Pagina Millonaria - Sitio 100% No oficial

1 comentários:

joaoleopires 13 de maio de 2012 às 15:59  

Belíssimos times e belíssima entrevista!!

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